sexta-feira, dezembro 22, 2006

o jazido da menina

leaozinho cresceu acreditando no amor.

leaozinho aprendeu desde cedo que amor não é coisa facil. mamãe sempre disse que não o era. e leaozinho, sempre acreditou na mamãe.
mas no fundo, leaozinho sempre achou que tinha forças pra tudo.

leaozinho namorou. namorou. namorou. e namorou.

depois, leaozinho aprendeu que amor nao é facil, nao senhor. e que é chato. exaustivo. e que revira as tripas.

leaozinho depois de elaborar muitas teorias, teve que as jogar todas fora, pela janela.


ó, aqui jaz a triste leaozinho. a caminhar entre pessoas sorridentes e vazias.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

a doce tristeza de nao dormir nunca.

estava assim, adormecida a tarde e acordei depois de ter um longo sonho com voce.

lembro dos dias, em que voce tao machucado pela vida nao conseguia me dizer nada. e em que eu, cansada de tantos vais e vens de emoçoes, nao conseguia escutar nada.
mal nos tocavamos.
alguns gestos de imenso carinho, mas apenas pela metade.
um meio beijo, um meio cafune.
deitavamos, eu fumava, voce me fazia cara feia pela fumaça, sorriamos e voltavamos a mergulhar em nos mesmo.
ao te lado, de alguma forma inexplicavel, achava que existia algum sentido, talvez o mesmo que vivo perdendo pelas ruas.
voce, dormia tranquilo, e ja nao rangia os dentes.

foram dias bonitos aqueles.
repleto de -nossas- tristezas.

nenhuma força a mais para levantar da cama, nenhuma palavra animadora e nada de "vai ficar tudo bem". a unica vez que busquei -muita- força para dizer, em voz fraca e vacilante, essa frase, voce brigou e a jogou fora.

é que nada ia ficar bem.
e nada esta, ainda agora.

voce a caminhar por ai.
eu imovel aqui.
e de vez em quando mudamos de posiçao.

senti tua tristeza de uma forma tao intima, e sabia que sentias a minha da mesma forma, que ja, depois de alguns dias, nem podia te olhar nos olhos.

e agora, na verdade, nem sei.
se melhor com tua nao presença, ou com a tua ausencia confirmada.

m.

ao domador de leoes.

prova de fogo, voce me disse uma vez.
achei graça, mas como sempre, passei a ter pra mim, prova de fogo como um momento que ia chegar. sempre acreditava que de voce vinha uma certa verdade imaculada.

aquele dia, nao provamos nada.
te perdi ali mesmo no cafe, entre tanta outra gente, falante e deprimida.

tu nao me escrevestes uma linha.

escutei umas dez vezes a nossa musica e depois cheguei a conclusao de que aquilo era estupido. nao quero ter uma musica. especialmente com voce.

tu deve estar deslumbrado com as novas coisas que te assombram, a acumular com as antigas...

lembro-me de ti, como ultima recente imagem o odio que sentia de teu cordaozinho velho. me desperta um odio que nao consigo explicar. ainda agora.
quem sabe nao os joga fora, como a todo o resto?

m.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

resolvi rever-te.

com a inocencia de que tinha domínio sobre os dias, sobre ti e sobre mim, planejei todas as palavras, todas as possibilidades. sabia todas as grosserias e as friezas finas que iria te dizer.

quando entrastes pela porta e me dissestes que era contra minha vida no passado. pensei em silencio.
nao mais?
e tu, nao mais contra, seguiu dizendo de forma subjetiva a necessidade de uma pequena loucura pra se conquistar um sonho. e sobre as distraçoes. me dissestes, "estas bem lida", com a prepotencia de quem já leu e conheceu quase tudo. a depois me dizer, estou lendo um livro novo...

ouvi-te dizer, eles gostam de mim, com um brilho no olho que eu nao via ha muito tempo. eres humano, gostas de ser gostado. dissestes: nao demonstrei claro.
e eu senti entender a nos dois um pouco mais.

quis me despedir de voce, mesmo naquele instante, na primeira palavra.

estive preparada pras brigas, pra te ver mal, pra me pedires que eu nao fosse eu. nunca pra me dizer que já me aceitavas, que já entendias que me amavas.

esperei ainda um pouco a ver o momento que ias desmontar de tua sanidade. e tu sim, quase. tentaste brigar comigo, bateu com o punho na mesa. achei graça. e tu, tambem viu. viu que eu tambem já havia entendido um pouco mais, e que nao brigaria por ouvir-te dizer sobre minha vida coisas duras. te vi amolecer por dentro. vi sua vontade de ir embora, tao forte quanto a minha.
quando se é velho de espirito, recomeçar se torna muito mais dificil.

te vi acabado por fora, enrugado, triste, magro, mesmo doente, de todas as porradas que levastes e ainda mais acabado de todas as porradas que destes.
me vi fudida. assim como voce. só que de corpo jovem e de espirito velho, desacreditada, sem o furor da juventude que ha alguns anos atras me fazia discutir diante de tuas ideias pessimistas sobre a minha vida.
aprendi a ser pessimista nao so mais com o mundo, e sim comigo tambem, e assim de alguma forma estranha, me tornei um pouco mais otimista.
é curioso os caminhos que a vida faz.

e até agora, espero o momento que vais voltar a ser aquela pessoa que eu odeio.
é que para isso estava pronta.
voltar a te amar, e agora como humano... te reler, de forma doce e mais real, ao mesmo tempo que com uma tristeza da releitura, isso sim é dificil. isso sim nao estava no manual, que uma vez comprei na uruguaiana e já ha pouco atirei pela janela.

ja nao reclamas do meu cigarro amarelando os dedos.
eu que tinha trinta respostas a isso. eu que te diria que ando me embriagando.
ate te disse, entre uma risada e outra, que meus problemas vem de ti. me agradecestes. mas nao ves assim.

eu é que vejo, e ver, me da uma misto de tristeza profunda a rasgar o peito e a roer meus pré-pós-pré conceito desde as raizes, com uma idiota felicidade a pensar que estou a viver uma redescoberta do -meu- mundo.

tripas a mostra. nada é bonito daqui, mas já nao é uma imaginacao de um sofrimento que nao tem que existir.

já podes morrer depois de hoje. consegui te matar em mim. alívio.



e apesar de tudo, la no fundo, ainda sigo esperando o momento em que me magoarás e colocarás todas essas palavras a perder.


m.