segunda-feira, dezembro 11, 2006

resolvi rever-te.

com a inocencia de que tinha domínio sobre os dias, sobre ti e sobre mim, planejei todas as palavras, todas as possibilidades. sabia todas as grosserias e as friezas finas que iria te dizer.

quando entrastes pela porta e me dissestes que era contra minha vida no passado. pensei em silencio.
nao mais?
e tu, nao mais contra, seguiu dizendo de forma subjetiva a necessidade de uma pequena loucura pra se conquistar um sonho. e sobre as distraçoes. me dissestes, "estas bem lida", com a prepotencia de quem já leu e conheceu quase tudo. a depois me dizer, estou lendo um livro novo...

ouvi-te dizer, eles gostam de mim, com um brilho no olho que eu nao via ha muito tempo. eres humano, gostas de ser gostado. dissestes: nao demonstrei claro.
e eu senti entender a nos dois um pouco mais.

quis me despedir de voce, mesmo naquele instante, na primeira palavra.

estive preparada pras brigas, pra te ver mal, pra me pedires que eu nao fosse eu. nunca pra me dizer que já me aceitavas, que já entendias que me amavas.

esperei ainda um pouco a ver o momento que ias desmontar de tua sanidade. e tu sim, quase. tentaste brigar comigo, bateu com o punho na mesa. achei graça. e tu, tambem viu. viu que eu tambem já havia entendido um pouco mais, e que nao brigaria por ouvir-te dizer sobre minha vida coisas duras. te vi amolecer por dentro. vi sua vontade de ir embora, tao forte quanto a minha.
quando se é velho de espirito, recomeçar se torna muito mais dificil.

te vi acabado por fora, enrugado, triste, magro, mesmo doente, de todas as porradas que levastes e ainda mais acabado de todas as porradas que destes.
me vi fudida. assim como voce. só que de corpo jovem e de espirito velho, desacreditada, sem o furor da juventude que ha alguns anos atras me fazia discutir diante de tuas ideias pessimistas sobre a minha vida.
aprendi a ser pessimista nao so mais com o mundo, e sim comigo tambem, e assim de alguma forma estranha, me tornei um pouco mais otimista.
é curioso os caminhos que a vida faz.

e até agora, espero o momento que vais voltar a ser aquela pessoa que eu odeio.
é que para isso estava pronta.
voltar a te amar, e agora como humano... te reler, de forma doce e mais real, ao mesmo tempo que com uma tristeza da releitura, isso sim é dificil. isso sim nao estava no manual, que uma vez comprei na uruguaiana e já ha pouco atirei pela janela.

ja nao reclamas do meu cigarro amarelando os dedos.
eu que tinha trinta respostas a isso. eu que te diria que ando me embriagando.
ate te disse, entre uma risada e outra, que meus problemas vem de ti. me agradecestes. mas nao ves assim.

eu é que vejo, e ver, me da uma misto de tristeza profunda a rasgar o peito e a roer meus pré-pós-pré conceito desde as raizes, com uma idiota felicidade a pensar que estou a viver uma redescoberta do -meu- mundo.

tripas a mostra. nada é bonito daqui, mas já nao é uma imaginacao de um sofrimento que nao tem que existir.

já podes morrer depois de hoje. consegui te matar em mim. alívio.



e apesar de tudo, la no fundo, ainda sigo esperando o momento em que me magoarás e colocarás todas essas palavras a perder.


m.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

nada mais pode te fazer se perder deste momento, branquinha.
lindo.
foda te ler.
mais lágrimas daqui.
abraaaçooo!

12:53 AM GMT-2  

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