segunda-feira, novembro 06, 2006

negociaçoes com os deuses.

leaozinho, quando pequena, aprendeu que devia rezar a papai do céu antes de dormir. Então, tomava seu banho, deitava na cama e rezava. tinha preguiça de ajoelhar e já considerava, desde então, exagero.
assim como habitualmente sonhava que alguem vinha assaltar-lhes a casa e ela conversava com o ladrão, o conquistava por sua simpatia, e o convencia de não lhes roubar, indo ele assim embora, ainda depois de tomar um copo de leite com ela e lhe dar um abraço. Assim como sonhava com isso, e com que ainda salvava a familia inteira de acidentes de trens e etc, ela acreditava que como mais ninguém, podia negociar com os deuses. Ou com Deus. Não lhe importava muito quantos eram.
Tinha longas conversas ao deitar-se na cama, de cabelos molhados, com eles. Negociava. Troco que a mamãe não morra por eu fazer todas as lições de casa. Troco papai me levar mais um dia no cinema por escovar os dentes todos os dias. Troco ter um irmão por não fazer mamãe triste nunca mais.
Prometia coisas que jamais poderia cumprir, mas que considerava mesmo promessas muito importantes, e estava segura que deus tinha aceitado a troca. Mas, como nunca chegava a cumprir as promessas, ou em sua maioria elas eram feitas de pra sempre, achava que ou a culpa era dela, por não cumprir a sua parte do trato, ou que o tal do pra sempre ainda não havia chegado, pra que ela pudesse receber sua parte da troca.
depois, ao crescer, sem se lembrar de tudo isso, vivia a dizer que não sabia negociar; não sabia pechinchar.

tudo que lhe sobrou das crenças de criança, enfim, foi a falta de crença. nos deuses, nas trocas e nela mesma.

m.