sexta-feira, novembro 03, 2006

Vestiu um vestidinho ridículo, na tentativa de se fazer mais bonita. Desembaraçou os cabelos com certa pressa, se maquiou de forma descuidada e saiu de casa.
Precisava desesperadamente se sentir bem, e foi dançar a uma discoteca, que lera em algum lugar que era da moda. Sempre teve uma ingenuidade disfarçada e cria nos jornais mais do que deveria. Adorava lê-los pela manhã. E essa manhã mesmo, havia circulado o nome e o endereço de uma boate “inn”.
Algo tenho que admitir, qualquer um que a visse naquela noite diria que estava notável. Bonita, não. Mas a sua vontade de parecer bem era tão indisfarçável, que chegava a ser curiosamente triste. Tinha uns olhos perdidos e volta e meia lembrava de forçar um sorriso.
Chegou a boate, uma portinha laranja e rosa, com letras modernas, bem grandes na porta. Entrou decidida e pediu um drink. Dessa vez não achou graça. Apontou qualquer um no cardápio, agradeceu e foi ver a pista de dança.
O lugar era horrível. Tudo de um mau gosto indescritível, e ali, apenas uma dúzia de turistas meio perdidos.
De alguma forma, sentiu-se confortável.
Uma musica dos Beatles começou a tocar. Ela terminou a bebida e dançou. O vestido roto, de bolinhas já algo apagadas, ia ficando molhado. Ela dançava, com ódio. Dançava desajeitada. de qualquer jeito. O importante era movimentar-se, pensou sem nem se dar conta.
Naquela noite ninguém a olhou.
Ela tampouco percebia a falta de elegância em cada movimento seu. O vestido ficando molhado, os cabelos em pé. Ela dançava, dançava, de olhos fechados, franzindo o rosto como se fizesse um trabalho muito pesado.
Não bebeu mais. Dançou a coleção inteira de beatles, beegees e terminou sozinha na pista, quando já não ha-se-via mais quase ninguém, dançando uma musica melosa do roupa nova.
Acenderam as luzes da discoteca moderna.
-Caralho, não quero voltar pra casa.
não tinha outro lugar pra ir. Sem refúgio, saiu. Suada, rota, acabada.
Pensou que voltaria ali. Mas, por certo não voltaria nunca mais.

m.