quarta-feira, maio 07, 2008

nota para volta

em minha casa já não tem você. e no meu peito, corpo, já não jaz você.
O que você me deu, da vida e de ti, estou tratando de dar por aí e de jogar no lixo.
Outro dia, refleti, acho que tu me achavas alguem que eu achava ser. compramos juntos uma imagem mofada e antiquada em um sebo e fizemos dela nossa bandeira.
Minhas paredes agora, brancas. meu gatos grandes, minhas unhas grandes, meus cabelos grandes.
e de você só um gosto amargo, e uma tristeza de constatar que só conhecestes de mim o que eu queria conhecer e queria que alguem me mostrasse. nem tu aguentou esse lado. e tentou virar o lado, mas como não havia, havia menos ainda deslado.
hoje estou de frente, nua, cabelos ao vento. os meus gatos em volta ronronanm. e alguem sorri: que agradavel.

>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

e agora fazem dois anos que estou aqui.
leaozinho, onde andaste? leaozinho voltei.
h-à mim.

terça-feira, maio 06, 2008

Veja que confusão. As suas mãos são idênticas às minhas e mal posso olhar para elas (as suas). Cada movimento dos seus dedos, cada linha profunda e escura, cada traço dela que confunde a aproximação da velhice com os desenhos geométricos que você tem na mão e os quais herdei, cada uma dessas idiossincrasias fisiológicas unidas à sua voz, à sua perturbação, ao seu orgulho em me mostrar uma descoberta nova, à sua vontade de dividir, a essa sua imensa solidão de pound, veja que confusão, mal posso olhar para o que você tem de mais meu. Um espelho rachado que não se quebra. Uma colcha de retalhos. Um livro que não deve, que não pode ter fim. Pois temos medo não só da linha da vida de nossa mão esquerda, que é atravessada por uma fenda de pele funda e fria, mas principalmente daquilo que vêem nossos olhos com uma grave inexatidão.