domingo, maio 20, 2007

IB

Sabe, eu só acho que, bem, já te contei tudo sobre a minha infância, tudo o que aconteceu, hoje eu to bem triste. É aquela historia ainda. Aquela, das figuras. É. Não passou. Não, não conversei. Não sei, não quero, estou pensando ainda se vale a pena. Você acha? Ando chorando muito, bem magoada mesmo. Estive pensando esses dias sobre ter um filho. Não, não to grávida! Mas senti aquela vontade maternal, algo que nunca tinha entendido até então. Nem foi maternal porque não sou mãe, mas curiosidade feminina sobre ser mãe. Acho que é isso que move as mulheres a terem um filho, foi assim com você? E quanto aos homens, o que os move? Parece que nada os move, nunca. A não ser... enfim. Mas voltando, eu fiquei com essa curiosidade, antes eu tinha aversão, eu já te expliquei isso, não foi? Então. Mas passou. É, acho que foi um progresso. Obrigada. Mas eu pensei bastante, essa vela se acendeu depois que ouvi uma musica que tocou meu coração, a musica era um nome de pessoa, e eu senti algo com aquele nome e pensei que meu filho teria esse nome, e quis adiantar o tempo e chegar na parte em que eu fico grávida. Nossa, fiquei feliz, emocionada. Acreditei na gravidez, entendi o significado disso pela primeira vez. Contei para alguns amigos, três deles só. Sim, retomei algumas amizades. Estou tentando, não é fácil. Mas é bom. Tinha me esquecido como é essa sensação. Ah, é mesmo, não é? Sentimentos novos, bons. Sim, sim. Ontem mesmo fui a um aniversario, eu teria ido antigamente, mas ontem fui com vontade de verdade, com animação. Só cheguei um pouco tarde, perdi o corte do bolo, mas fiz amizade até com gente nova. Não sei se vamos nos cumprimentar na rua depois de ontem, mas na hora foi natural, sabe? Foi naquele bar dos caranguejos, conhece? O taxista errou o caminho, antigamente eu teria achado ridículo um taxista não saber o caminho. É, estou bem mais... qual é a palavra mesmo? Sim, calma também, tô mais paciente, mas acho que me desvencilhei de certas coisas, abri mais minha cabeça, saí de casa, matei meus pais, essas coisas, entende? Totalmente, não... Ih, falta tanto ainda. Mas algumas pequenas coisas, como não achar ridículo o taxista que não conhece a cidade, como ter amigos, querer casar, sabe? Esses costumes de casa que a gente não leva pra rua, mudando um pouco o ditado. Claro, claro, tem vários. Aposto que na sua casa tinha também, aliás você se dava bem com seus pais? Hum. Eu sei. ... ... Incrível, não é? Sei. Legal. Hum. Ah, o nome? Sim, voltando ao nome. Pois é, meus amigos acharam o nome muito bonito. Todos três gostaram. O namorado de uma das amigas até opinou, disse que gostou também. Achei que foram opiniões verdadeiras, porque esses meus amigos eles falam quando não gostam de algo, e também dá pra sentir quando eles estão sendo sinceros ou não. Na verdade eu nem tava ligando, porque eu tava decidida em relação ao nome. Uma das amigas até pensou nos apelidos. Não concordamos em relação ao apelido, mas é aquela velha história, o filho é meu, eu chamo como quiser, né? Ela ia chamar lá com o apelido que ela preferiu, mas isso não ia interferir em nada. Tudo ia continuar sendo muito bonito. Imagina! É, acho que acontece isso sim. Mas eu só saio daqui quando você me der alta, não se preocupa. Mesmo que eu já esteja casada e grávida, só saio daqui quando você me der alta! Prometo, claro. Eu sei, mas eu voltei. Demorei, mas voltei. Eu sei, eu sei. Antes era diferente, eu estava muito fechada. Agora eu choro, rio, conto tudo mesmo. Quero melhorar mesmo. É, eu sei... Hum, fala. Ele? Contei do nome sim. Ah... Ele... .... Ele não gostou não.


Deram 15h no reloginho que ficava no centro da sala mal iluminada, e a sessão tinha acabado. Lucia se despediu com um beijo e, quando a paciente saiu do local, continuou escrevendo anotações na ficha de iniciais IB.

domingo, maio 13, 2007

ela sorriu tímida, algo triste. Não aguentava a dor de cada palavra disperdiçada daquele desconhecido verborrágico, que agora, nem ela sabia direito como tinha ido parar ao seu lado.
Ela lhe deu um beijo, sabendo que ia deixa-lo em muito breve.
vou lhe deixar, pensou. E sentiu uma tristeza tão grande quanto insuportável.
Não aguentava mais deixar. Lembrou nesse instante, que justamente por não aguentar mais quase nada é que antes de encontrar-se, sabe lá ela, ali com aquele rapaz, tinha decidido não ir.
E não vinha.
Agora vai deixa-lo. Muito em breve.
Pintou os olhos, se olhou no espelho, e foi. E agora, sabe-se lá porque.
Ela sorriu quando o viu. Gosto dele.
E ele, tão mal vestida, deve ter pensado.
E sorriu pra ela, olhou pra ela. As vezes, a tocava, bem nas coxas, mas ela, quase nada.
vou lhe deixar a cada minuto que passa. sentiu mais forte, dessa vez no estomago.
Sentiu-se ridícula então, pediu um café e tirou o batom com um guardanapo meio amassado, que jazia em seu prato.
Pensou na raiva que sentia. Lembrou de um telefonema que o Homem havia lhe dado esses dias.
- Leãozinho? ele disse.
ela desligou.
Sabia que ele viria dizer-lhe qualquer coisa só pra esvaziar-se. E ela que andava tão cheia. e tão vazia.
Sentiu o estomago de novo.
- Acho que vou trocar meu café por um chocolate.
- Quente?
- Não, frio mesmo.
Insoso, ele pensou.
E talvez tenha sido esse o único diálogo da noite.
Vou te deixar, mesmo nos próximos minutos.
Sentia já vontade de chorar, a cada olhar que ele nao lhe lançava, e cada palavra que ele não lhe dizia. Ele falava muito, mas não era pra ela. E ela já nem sequer ouvia.
VOU TE DEIXAR.
Saiu, nem lhe explicou. Saiu do café e correu pelas ruas, correu tanto. Corria na esperança de ir deixando uma perna ou um braço pelo caminho. Quem sabe dava a sorte de chegar em casa e não ser mais que um pedaçinho de nada.
Ele devia estar sentado lá sem entender.
Odiava ele por sua ironia, odiava ele por telefonar.
Parou. Vomitou, sentada em um canto da calçada.
eu vou me deixar, eu vou me deixar...

domingo, maio 06, 2007

ragia

- Você me deixa confuso. Faz eu me sentir mal.
- Não quero mais. Agora estou triste, estou chorando já. Desculpa!
- Mas você queria, então pronto. Só não diga que nunca mais vai querer. Porque você não é uma parede, você tem ouvidos. E eu tenho sentimentos.

A hemorragia pode ser externa - quando o sangramento é visível -
ou interna - quando o sangramento não é visível, circunstância mais
difícil de imediata identificação.