domingo, maio 13, 2007

ela sorriu tímida, algo triste. Não aguentava a dor de cada palavra disperdiçada daquele desconhecido verborrágico, que agora, nem ela sabia direito como tinha ido parar ao seu lado.
Ela lhe deu um beijo, sabendo que ia deixa-lo em muito breve.
vou lhe deixar, pensou. E sentiu uma tristeza tão grande quanto insuportável.
Não aguentava mais deixar. Lembrou nesse instante, que justamente por não aguentar mais quase nada é que antes de encontrar-se, sabe lá ela, ali com aquele rapaz, tinha decidido não ir.
E não vinha.
Agora vai deixa-lo. Muito em breve.
Pintou os olhos, se olhou no espelho, e foi. E agora, sabe-se lá porque.
Ela sorriu quando o viu. Gosto dele.
E ele, tão mal vestida, deve ter pensado.
E sorriu pra ela, olhou pra ela. As vezes, a tocava, bem nas coxas, mas ela, quase nada.
vou lhe deixar a cada minuto que passa. sentiu mais forte, dessa vez no estomago.
Sentiu-se ridícula então, pediu um café e tirou o batom com um guardanapo meio amassado, que jazia em seu prato.
Pensou na raiva que sentia. Lembrou de um telefonema que o Homem havia lhe dado esses dias.
- Leãozinho? ele disse.
ela desligou.
Sabia que ele viria dizer-lhe qualquer coisa só pra esvaziar-se. E ela que andava tão cheia. e tão vazia.
Sentiu o estomago de novo.
- Acho que vou trocar meu café por um chocolate.
- Quente?
- Não, frio mesmo.
Insoso, ele pensou.
E talvez tenha sido esse o único diálogo da noite.
Vou te deixar, mesmo nos próximos minutos.
Sentia já vontade de chorar, a cada olhar que ele nao lhe lançava, e cada palavra que ele não lhe dizia. Ele falava muito, mas não era pra ela. E ela já nem sequer ouvia.
VOU TE DEIXAR.
Saiu, nem lhe explicou. Saiu do café e correu pelas ruas, correu tanto. Corria na esperança de ir deixando uma perna ou um braço pelo caminho. Quem sabe dava a sorte de chegar em casa e não ser mais que um pedaçinho de nada.
Ele devia estar sentado lá sem entender.
Odiava ele por sua ironia, odiava ele por telefonar.
Parou. Vomitou, sentada em um canto da calçada.
eu vou me deixar, eu vou me deixar...