terça feira seis e meia da manhã
Saiu, ainda de pijama, porque não aguentava mais ouvir o gato chorar. Ela lhe fazia carinho e nada era suficiente. O gato pedia para abrir a porta, ela abria, ele chorava. Ela o convidava pra dentro, ele entrava e começava a chorar. Foi ao vizinho e chorou, o que a deixou brava. Além do ciúmes louco que tinha desse gato, tinha medo que ele acordasse os outros. Perguntou-lhe o que ele tinha. Ele chorou. Tá sentindo alguma dor? Ele chorou. Como que não aguentasse mais os lamentos do gato carente, pôs o chinelo por cima da meia e saiu em meio a neblina.
seis, sete da manhã.
passou em frente a uma escola e viu as crianças asseadas. Camisa de manga longa branca, gravatinha. As meninas, muito bem penteadas. O pai e a mãe de mãos dadas dão um beijo burocrático no menino. A empregada negra, mal vestida, dá um tchau emocionada para a menina. Parece ser o primeiro dia de aula. Que mês será hoje, pensou ela?
Lembrou do gato e pensou que ele devia refletir algo dela.
Depois lembrou Dele, a dizer que ela imaginava muito, que os gatos são mais simples nos seus sentimentos. Será que ele tem razão, pensou.
As vezes desejava secretamente que os dois gatos morressem, de uma vez, para não ter mais que lidar com isso.
sentiu vontade de contar para alguém que sonhara com o avô a noite toda, que ele a esperava dentro de um carro. E que ela esperava alguém entrar para que seguissem viagem. Vai ver fora porque pensara a noite, antes de dormir, em como seria difícil se o avô morresse.
Pensou em como a instituição Família era algo que lhe era distante. Lembrou das crianças asseadas. Da gravatinha do menino, que devia aperta-lo forte, tanto mais e tanto mais frio que o abraço da empregada gorda, que se emocionava. Era agosto. Não podia ser início de ano letivo. Provavelmente a "preta" (se convenceu de que a chamavam assim)se emocionasse toda vez que levava a menina a escola. "essa tem futuro". E se ela visse a menina agora, de pijamas e chinelo, fumando na frente de uma escola infantil porque não soube lidar com a emoção de um gato? o que seria?
a gente envelhece e fica cada vez mais sensível, disse um velho passando para o seu neto. O neto olhava pro céu, certamente muito novo pra entender o peso daquilo. O peso do tempo e do céu.
Ela sorriu, e seguiu o passo.
seis, sete da manhã.
passou em frente a uma escola e viu as crianças asseadas. Camisa de manga longa branca, gravatinha. As meninas, muito bem penteadas. O pai e a mãe de mãos dadas dão um beijo burocrático no menino. A empregada negra, mal vestida, dá um tchau emocionada para a menina. Parece ser o primeiro dia de aula. Que mês será hoje, pensou ela?
Lembrou do gato e pensou que ele devia refletir algo dela.
Depois lembrou Dele, a dizer que ela imaginava muito, que os gatos são mais simples nos seus sentimentos. Será que ele tem razão, pensou.
As vezes desejava secretamente que os dois gatos morressem, de uma vez, para não ter mais que lidar com isso.
sentiu vontade de contar para alguém que sonhara com o avô a noite toda, que ele a esperava dentro de um carro. E que ela esperava alguém entrar para que seguissem viagem. Vai ver fora porque pensara a noite, antes de dormir, em como seria difícil se o avô morresse.
Pensou em como a instituição Família era algo que lhe era distante. Lembrou das crianças asseadas. Da gravatinha do menino, que devia aperta-lo forte, tanto mais e tanto mais frio que o abraço da empregada gorda, que se emocionava. Era agosto. Não podia ser início de ano letivo. Provavelmente a "preta" (se convenceu de que a chamavam assim)se emocionasse toda vez que levava a menina a escola. "essa tem futuro". E se ela visse a menina agora, de pijamas e chinelo, fumando na frente de uma escola infantil porque não soube lidar com a emoção de um gato? o que seria?
a gente envelhece e fica cada vez mais sensível, disse um velho passando para o seu neto. O neto olhava pro céu, certamente muito novo pra entender o peso daquilo. O peso do tempo e do céu.
Ela sorriu, e seguiu o passo.
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